segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Lógicas do dia-a-dia

Há uma coisa que me intriga: as lógicas das pessoas no seu dia-a-dia. Estas lógicas constroem-se com base em perguntas que, parecendo normais, são, na verdade, disparatadas. Vamos ver como.
Eu no outro dia estava em casa a dormir. Toca o telefone e e levanto-me para o atender enquanto bocejo e coço esta zona aqui em baixo. "Estou?" Era a minha mãe. "Filho, estás onde?"............................................................... SE ELA ME LIGOU PARA CASA, ONDE É QUE ELA QUERIA QUE EU ESTIVESSE?!?!? E acabou por se desenvolver ali um diálogo ridículo.
"Mãe, para onde é que me ligaste?"
"Para casa."
"Então se eu atendi, às tantas estou na faculdade."
"Ah filho (diz-me ela enquanto se ri) lá estás tu!"
Epá...eu acho que tem lógica o que eu disse.
Outra coisa. Um gajo está num restaurante. Um amigo nosso vê-nos numa mesa. Ele dirige-se a nós e pergunta: "Então Tomé, estás bom? O que é que fazes por aqui?" E é nesta altura em que eu fico com cara de parvo e penso para comigo. "Epá, eu vim a um restaurante e estou sentado numa mesa com um prato à frente. Se calhar vim requisitar um livro."
"Vim requisitar um livro aqui ao restaurante."
"Ah Tomé, sempre o mesmo brincalhão!"
Epá o que é que querem que um gajo diga? E depois se um gajo diz o que veio ali realmente fazer, que neste caso foi comer, a outra pessoa diz: "Pois, isso estou eu a reparar né!" PORRA ENTÃO PORQUE É QUE PERGUNTASTE? Um gajo fica sem alternativa. Bizarro.
Uma muito gira e também muito frequente: as quedas. Um gajo cai e há sempre alguém que diz: "Epá, caíste?" "Não. O que tu viste foi eu a querer desafiar a gravidade e a não ser bem sucedido." "Ah Tomé, lá estás tu!"
Ou então, quando um gajo chega ao pé de amigos depois de ter partido um braço ou uma perna. "Então maluco, aleijaste-te?" Quer dizer, um gajo parte um braço ou uma perna, doi como à merda, e ainda tem que ouvir estas coisas. É que dá mesmo vontade de responder: "Não. Então eu parti um braço e uma perna porque gosto. Às vezes acordo com a vontade de partir um braço ou uma perna porque sabe bem. Não dói nem nada. Hás-de experimentar!" E depois acaba sempre por ouvir a frase habitual: "Sempre o mesmo Tomé! Lá estás tu!" Pá, não percebo.
Mas o que é mais da praxe é quando eu chego à terra do meu pai. Há sempre uma velha que me pergunta ao ver-me a sair do carro: "Ah nino, então já chegaste?" "Não, Ti Idalina, ainda estou nas portagens da A1." E elas esboçam um sorriso triunfal porque acabam de me dar baile. Fantástico.
É isso e quando estamos entre amigos. Quando os homens estão juntos, há sempre um, num espaço de quarto de hora, epá sempre, que dá um peido. Os outros ficam a rir-se e a olhar para ele. No entanto, há sempre alguém que pergunta a rir: "Peidaste-te?" "Não. Foi a formiga que está a passar agora por cima do teu ombro." Todos sabem que um gajo libertou uma flatulência mas há sempre um que pergunta. Estupendo.

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